Elas, as baratas
Tanto já se falou sobre baratas. Especialmente sobre controle. Será vício ou necessidade?
Talvez um pouco de ambos.
Vício, por serem tidas como as pragas mais asquerosas. E é comum reforçamos nosso desprazer com o que nos incomoda. Necessidade, por serem “astutas” e driblarem os objetivos de controle.
Nem tudo está perdido.
Palavra chave para o sucesso: estratégia.
Controle:
Muitos querem encurtar o caminho e partir para discussão imediata de como controlar baratas. Embora não vamos detalhar aqui, há que lembrar que o controle está embasado no conhecimento da biologia e, principalmente, no comportamento destes insetos.
São várias as espécies e somente algumas são sinantrópicas. Nossa meta do momento será aquela que causa maiores problemas no meio urbano: a barata de cozinha ou “francesinha”, Blattella germanica.
Fatos e focos:
Fato é que são altamente reprodutivas e com ciclo de evolução curto, o que requer controle com monitoramento contínuo. Vivem cerca de 70% de sua vida dentro dos abrigos ou focos, o que indica que o tratamento localizado é o mais produtivo.
Frequentam locais com áreas sensíveis, como hospitais, escolas, indústrias, restaurantes, o que exige controle com segurança toxicológica ambiental e humana, com emprego de “técnicas limpas” ou sustentáveis, para evitar contaminações e intoxicações.
Da pulverização convencional ao gel:
O caminho foi longo!
As primeiras percepções sobre as baratas “passearem” de madrugada levaram à definição de tratamento químico por pulverização liquida nos locais de passagem. Com certeza tinha e tem algum resultado, mas ao longo do tempo passou a não ser suficiente.
As pulverizações se davam com bastante molhamento, enquanto atualmente são apenas de recobrimento suave e homogêneo das superfícies. Temos que ter preocupação com o Manejo da Resistência e otimizar a vida útil dos praguicidas. Resistência, a questão de sub dosagens por limpezas úmidas e as exigências ambientais e de controle motivaram muitos estudos sobre comportamento, visando melhorar os resultados de controle.
Novos grupos químicos foram definidos para a área de controle de pragas, passando por piretróides e chegando aos mais modernos neonicotinóides e IGR’s.
Neste meio tempo, o grupo das amidino hidrazonas aportou na forma de isca gel baraticida, sendo uma linha divisória no controle de baratas.
A era do gel:
O gel baraticida aportou no mercado como um diferencial bastante representativo para o controle de baratas, principalmente para Blattella germanica.
A isca gel pode ser usada para todas as espécies de baratas, por ser um atrativo alimentar desejado por estes insetos. No entanto, esta forma de controle foi especialmente oportuna para as baratas de cozinha por serem de mais difícil redução e com história pregressa de resistência comprovada a inseticidas dos grupos dos organofosforados e dos piretróides, dominantes na época da entrada do gel no mercado brasileiro.
Não existe, pelo conhecimento atual, nenhum relato de resistência ao gel, o que favorece muito esta opção de controle para esta espécie. Outras espécies podem ser facilmente controladas com aplicações líquidas. Sendo a barata de esgoto a segunda prevalente no meio urbano e estando a maioria de seus focos primários em áreas externas, o controle líquido torna-se uma estratégia adequada papa a Periplaneta americana.
Ao contrário, a B. germanica é barata de área interna e com infestações críticas em áreas de alimento e áreas sensíveis, em geral e seu controle requer técnicas de maior segurança toxicológica e cuidados com relação a possíveis contaminações ambientais, humanas e animais.
Como mencionamos resistência, faz-se necessário comentar sobre resistência comportamental. A resistência genética ocorre a nível de gen, por hereditariedade, transmitida de uma geração para outra. Assim, a resistência genética, no caso de inseticidas, se dá em relação ao ingrediente ativo, onde uma população tem indivíduos suscetíveis que são eliminados e outros não suscetíveis que sobrevivem e se cruzam, aumentando a carga de resistentes na população. A resistência genética é, portanto, um processo evolutivo populacional, uma forma de garantir a perpetuação da espécie. Daí ser fundamental rodiziar produtos de diferentes grupos químicos para o manejo da resistência e maior sobrevida dos ingredientes ativos.
Existe um outro tipo de resistência que nada tem a ver com hereditariedade e que recebe o nome de resistência comportamental. Esta vem a ser um comportamento que o animal assume de rejeição alimentar de algum ingrediente que faça parte da matriz ou composição da isca, não associado ao ingrediente ativo. Este comportamento é conhecido como aversão alimentar ao gel. Isto ocorreu em relação a um açúcar ( glicose ) componente da isca, mas foi percebido a tempo hábil, de forma que já foi substituído pela própria indústria, sendo contornada a ocorrência.
Retomando, vamos então focar nosso controle na barata de cozinha.
Vantagens e cuidados no uso do gel:
As vantagens relacionadas ao uso do gel baraticida são inúmeras, a começar pelo fato de serem aplicados pontualmente dentro ou próximo do abrigo e em locais de passagem, de forma discreta. O serviço pode ser realizado a qualquer momento, sem interrupção das atividades de rotina do setor. Não perturba o cliente, o que torna-se de suma importância, pois as atividades de desinsetização normalmente estão associadas a “incômodo”.
É um tipo de serviço que está incluído nas chamadas “técnicas limpas”, ambientalmente corretas, com foco em sustentabilidade. Os pontos ou pontuações do gel escolhido devem ser aplicados em número suficiente e compatível á infestação local. Deve-se pensar que o gel é um atrativo alimentar que concorre com a oferta de alimento da área. Desta forma, um maior número de pontos de aplicação torna-se mais competitivo e promove maior chance de serem encontrados pelas baratas. Considerando que baratas de cozinha têm uma ingestão média baixa de 2 mg por dia, não há necessidade de pontos de maior diâmetro/volume. A dica é ter vários pontos de pequeno calibre.
Ainda que o rótulo indique uma pontuação por metragem, isto significa que rótulos necessitam orientar os usuários por questões legais da ANVISA. Em não havendo informações técnicas confiáveis adicionais, o RÓTULO É A LEI. No caso de aplicação de gel, o que orienta a aplicação é a inspeção técnica ambiental e de infestação, sendo esta indicativa dos locais a serem iscados. A iscagem deve obedecer a interpretações de locais de abrigo e de passagem de baratas, horizontal e verticalmente.
O gel pode ser aplicado por pistola dosadora ( exact dose ) ou seringa manual . Óbvio está que a aplicação por seringa é de superior eficácia, seja do ponto de vista resultado, padronização, profissionalismo e dosagem. O emprego da pistola dosadora é preferencial à aplicação por seringa manual, pois esta fica na dependência da manipulação individual do aplicador e gera uma imagem de um serviço menos técnico para o cliente.
Recomenda-se fazer um mapa de monitoramentos dos pontos de aplicação. Orienta-se também sobre a retirada de pontos com validade vencida e ressecados, para evitar uma mistura de pontos mais recentes e antigos e já sem função, além de tal procedimento ser necessário a uma preocupação estética local. Trabalho limpo e cuidadoso faz parte de uma “imagem” necessária e reconhecida como QUALIDADE.